por Equipe do BLOG Capivara Reflexiva
Você deve ter ouvido falar nas últimas semanas sobre um novo tratamento para o câncer, realizado por pesquisadores brasileiros na Universidade de São Paulo (USP). É com muito orgulho que podemos dizer que pela primeira vez na América Latina, pesquisadores conseguiram realizar, com sucesso, um tratamento imunoterápico para linfoma (um tipo de câncer), utilizando linfócitos T (células de defesa do sistema imune), modificados geneticamente.
O tratamento imunoterápico, também conhecido como imunoterapia, envolve manipular o sistema imunológico do próprio paciente de modo a torná-lo mais forte e, portanto, mais eficiente para o combate a diversas doenças, como viroses, alergias, doenças autoimunes e câncer.
Durante as últimas décadas, os cientistas têm chamado a atenção para a importância da imunoterapia como alternativa de combate ao câncer, pois durante o desenvolvimento da doença, as células cancerosas interagem intimamente com o sistema imune do paciente, o qual tenta de diversas formas destruir as células doentes e eliminar o câncer. Isso ocorre, pois o sistema imune é capaz de identificar as células cancerosas, uma vez que elas apresentam em sua superfície, substâncias características, que as fazem diferentes das demais células do corpo. Assim, ao detectar as células doentes, o sistema imunológico age na destruição das células e no combate à doença. Muitos pacientes ficam completamente curados desta enfermidade, somente por meio da ação natural do sistema imunológico, porém, outros não conseguem resultado tão promissor. Dessa forma, os cientistas perceberam que a manipulação do sistema imune por meio da imunoterapia seria vantajosa para o combate ao câncer, pois aumentaria a chance de eliminação das células doentes e possível supressão total da doença.
O tratamento realizado no Brasil, liderado pelo médico Dr. Dimas Tadeu Covas, coordenador do Centro de Terapia Celular da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, USP, utilizou uma das diversas técnicas imunoterápicas disponíveis atualmente: a terapia com células T ou linfócitos T (Figura 1).
As células T, ou linfócitos T possuem em sua superfície substâncias capazes de reconhecer as substâncias presentes na superfície de células cancerosas e desencadear respostas imunológicas que visam a destruição dessas células e, consequentemente, a eliminação do câncer. No entanto, conforme dito anteriormente, nem sempre essa resposta é eficiente, pois o câncer pode se esquivar desses mecanismos, podendo levar o paciente a um estado grave. Assim, a equipe brasileira empregou a imunoterapia para aumentar a eficiência do sistema imune do paciente no combate à doença.
Para tal, os pesquisadores extraíram do sangue do paciente, linfócitos T e os modificaram geneticamente, alterando as substâncias presentes em sua superfície, tornando-as mais específicas para a detecção das células cancerosas. Posteriormente, esses linfócitos modificados foram multiplicados em larga escala em laboratório e injetados novamente no paciente, onde detectaram rapidamente as células cancerosas e desencadearam respostas imunológicas eficientes de combate à doença, reduzindo, em pouco tempo, o número de células e revertendo o quadro grave do paciente (Figura 1-2).
Por enquanto, o tratamento foi realizado em apenas um paciente, o aposentado Vamberto de Castro, de 62 anos, o qual possuía linfoma grave, em estado terminal e que não respondia aos tratamentos convencionais disponíveis para a doença. No entanto, a terapia desenvolvida é muito promissora e representa importante avanço para a ciência no Brasil. Ainda, o novo tratamento deixa o país autossuficiente para a realização desses tratamentos, uma vez que dispensa o uso de tecnologias estrangeiras semelhantes, as quais são muito mais onerosas. O coordenador do projeto, Dr. Covas, enfatiza, ainda, que este tratamento estará, em breve, disponível em hospitais públicos por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), e poderá beneficiar milhares de cidadãos brasileiros.
Esta pesquisa foi realizada em uma instituição pública de pesquisa e financiada com recursos do Governo do Estado de São Paulo, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e do Governo Federal, por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
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Bibliografia
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Androulla, MN & Lefkothea, PC 2018. CAR T- cell therapy: A new era in câncer immunotherapy. Current Pharmaceutical Biotechnology, 19, 5-18.
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