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Como os protozoários podem melhorar a performance das plantas?

Foto do escritor: Capivara ReflexivaCapivara Reflexiva

por Franciane Cedrola

Doutoranda em Ciências Biológicas - Comportamento e Biologia Animal


Todos os nutrientes que a planta absorve do solo passam pela rizosfera, que é a região do solo sob influência das raízes (Figura 1). Esta região possui características muito diferentes das observadas em solo não-rizosférico, pois reúne maior quantidade de nutrientes provenientes das raízes. Sendo assim, a rizosfera proporciona nichos ecológicos* atrativos para diversos microrganismos que vivem em associação íntima com as raízes das plantas, os quais constituem o chamado microbioma rizosférico.


Figura 1. Esquema representativo da rizosfera

O microbioma rizosférico é muito diversificado e é formado por microrganismos de diferentes tipos, como arqueas*, bactérias e protozoários. Eles trazem inúmeros benefícios às plantas, pois atuam na ciclagem de nutrientes, mineralização e decomposição da matéria orgânica, produção de fito-hormônios*, fixação biológica de nitrogênio, controle biológico contra patógenos e aquisição de água e nutrientes.

Dentre tais microrganismos, os protozoários são muito importantes, pois atuam de diversas formas no ambiente rizosférico, sendo determinantes para uma boa performance das comunidades vegetais, contribuindo para o crescimento, nutrição e saúde das plantas. Esta importância está principalmente relacionada à atividade predatória que eles realizam sob outros microrganismos do microbioma, principalmente sobre as bactérias.

A atividade predatória dos protozoários sobre as bactérias promove a mineralização de nutrientes no solo, aumentando a taxa de ciclagem destes nutrientes, ou seja, deixando-os novamente disponíveis no ambiente, de forma muito mais rápida. Isso ocorre, porque na rizosfera, os protozoários utilizam muito menos nitrogênio do que eles são capazes de obter por meio da predação das bactérias. Dessa forma, eles eliminam o excesso de nitrogênio obtido, no formato de amônia (NH3), deixando-o disponível para outros microrganismos e para as comunidades vegetais. Na ausência da atividade predatória isso não ocorre, e, consequentemente, a ciclagem de nutrientes no solo se desenvolve em taxa mais lenta, pois o nitrogênio presente, principalmente na nas bactérias, se mantém por mais tempo indisponível para a utilização na comunidade. Estima-se que os protozoários possuam a capacidade de liberar de 30 a 50% do nitrogênio imobilizado na biomassa bacteriana (no corpo das bactérias) ao realizar atividade predatória sobre as bactérias.

Além dessa vantagem, os protozoários trazem, ainda, muitos outros benefícios quando presentes no microbioma rizosférico. Eles podem, por exemplo, ser responsáveis pelo controle natural de patógenos vegetais! Isso ocorre, pois, a atividade predatória é responsável por promover respostas das comunidades bacterianas predadas contra seus protozoários predadores. Estas respostas ocorrem, dentre outras formas, por meio da produção, por parte das comunidades bacterianas, de metabólitos secundários (substâncias tóxicas), os quais apresentam ação venenosa sobre os protozoários, mas que também podem ter efeitos negativos sobre diversos patógenos vegetais. Neste caso, os protozoários atuam no estímulo à produção de compostos antibióticos naturais na comunidade rizosférica, colaborando para manutenção da saúde das plantas, as quais se tornam menos sensíveis a vários patógenos, dispensando, em muitos casos, o uso de anti-patógenos artificiais, como agrotóxicos, por exemplo, que podem trazer diversos riscos à saúde humana, conforme já discutido aqui no BLOG (https://creflexiva.wixsite.com/capivarareflexiva/inicio/pare-perigo-o-veneno-est%C3%A1-em-todo-lugar).

A importância dos protozoários para a manutenção da eficiência do ambiente rizosférico não para por aí! Eles atuam, também, aumentando a eficiência de outros organismos constituintes do microbioma. Diversos pesquisadores já constataram que na presença de protozoários, nematoides (vermes) e oligoquetos terrestres (minhocas) são capazes de ampliar, significativamente, o tamanho de plantas pertencentes à espécie Hoderlymus europaeus (uma espécie de trigo). Ainda, os cientistas já constataram que os protozoários são capazes de melhorar a eficiência da relação simbiótica existente entre fungos micorrízicos (fungos em associação com raízes de plantas) e a planta Plantago lanceolata ao promover, de forma mais rápida, a assimilação de nitrogênio pela micorriza e o seu subsequente transporte para as raízes das plantas.

Diversos estudos, apontam, ainda, que na presença de protozoários, as plantas desenvolvem sistema radicular muito ramificado, decorrente de forte estímulo à produção de raízes laterais. Existem evidências de que este estímulo seja provocado pela produção de certos tipos de fito-hormônios pelos protozoários.

Assim, percebe-se claramente a importância dos protozoários para a manutenção do equilíbrio do solo e dessa forma, eles são considerados foco importante em estudos que buscam estratégias para a realização de atividades agrícolas sustentáveis e de alto rendimento. De modo que os protozoários são capazes de formar cistos, os quais são formas de resistência a adversidades ambientais, eles podem ser usados na formulação de biofertilizantes que atuem aumentando a eficiência da produção ao estimular o crescimento vegetal. Recentemente, produtos dessa natureza foram desenvolvidos na Europa e tem trazido bons resultados na agricultura, pois estimulam o crescimento vegetal e eliminam, em grande parte, a utilização de fertilizantes e anti-patógenos artificiais, como agrotóxicos, levando a uma produção agrícola sustentável e eficiente. Talvez seja hora de começarmos a pensar em estratégias deste tipo para serem aplicadas aqui no Brasil!

Glossário:

Nicho ecológico: conjunto de condições e recursos que permitem a uma espécie sobreviver no ambiente.

Arqueas (Archaea): designação de um dos domínios de seres vivos, morfologicamente semelhantes às bactérias, mas genética e bioquimicamente tão distintas destas como dos eucariotos.

Fito-hormônios: também conhecidos por hormônios vegetais são compostos orgânicos que atuam em doses muito pequenas e são os principais fatores internos de regulação das reações de desenvolvimento e crescimento das plantas.

Referências

GAO, Z.; KARLSSON, I.; GEINSEN, S.; KOWALCHUK, G.; JOUSSET, A. Protists: Puppet másters of the rhizosphere microbiome. Trends in Plant Science, 24, 2, p. 165-176, 2018.

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