Por Sheila Sousa de Jesus Peixoto
Mestre em ecologia pela Universidade Federal de Juiz de Fora
Quando uma pessoa se infecta com o novo coronavírus ela pode apresentar, dentre outros sintomas, febre, dores na garganta, crise respiratória e tosse. Para se confirmar a doença é necessário realizar um exame que detecte o RNAviral, por meio de exames moleculares. Ao constatar a infecção, o paciente é isolado das pessoas saudáveis visando diminuir as taxas de infecção do coronavírus. Por outro lado, existem pessoas que mesmo infectadas são assintomáticas ou apresentam sintomas leves e com isso, muitas não são diagnosticadas e a doença não é documentada
O pesquisador Ruiyun Li e sua equipe, que trabalham no Centro de Análises de Doenças Infecciosas Globais (Centre for Global Infectious Disease Analysis) em Londres, publicaram um artigo na revista Science com o título: “Infecções não documentadas são responsáveis por facilitar a rápida disseminação do novo coronavírus”. Neste trabalho foram desenvolvidos e testados modelos matemáticos que simulavam a dinâmica das infecções por este micro-organismo na China. Ou seja, modelaram como este se comporta ao longo do espaço e do tempo. Para isso, foram utilizados diferentes dados e ferramentas estatísticas e geraram possíveis cenários que mostram as taxas de infecção por coronavírus. O artigo tem uma metodologia complexa e várias perguntas científicas foram respondidas, porém, vamos focar em um ponto específico deste trabalho: Os casos não documentados de coronavírus.
Em um dos modelos apresentados, levando em conta uma sociedade desenvolvida sem um rígido controle das atividades da população, foi indicado que 86% das infecções por coronavírus ocorreram por meio de casos NÃO DOCUMENTADOS, ou seja, por pessoas que não foram diagnosticadas, pois apresentavam poucos ou nenhum sintoma da doença. Uma vez que pessoas não diagnosticadas não estão em quarentena, estas acabam infectando um grande número de pessoas. Foi mostrado que a alta proporção de infecções não documentadas foram grandes responsáveis pela rápida disseminação do vírus por toda a China, além de contribuir com seu potencial pandêmico (potencial que o vírus tem em causar uma pandemia). Isso demonstra a importância tanto do isolamento social, quanto da quarentena, pois dessa forma as pessoas infectadas e que não sabem que são portadoras do vírus deixariam de transmiti-lo à outras pessoas (figura 1). Neste trabalho também foi indicado que para se controlar totalmente o coronavírus seria necessário um aumento radical na identificação e isolamento das infecções.
Para finalizar, vamos analisar o contexto no Brasil (país em desenvolvimento e ainda com grande desigualdade social): Não temos testes o suficiente para utilizarmos em todos os potenciais infectados e com isso as informações sobre este vírus podem estar drasticamente subestimadas. Também não tomamos medidas de contenção populacional rigorosas, ou seja, muitos ainda estão trabalhando e/ou se sentem obrigados a isso. Ainda, podemos ter, no país, um grande número de casos não documentados, os quais podem disfarçar o real número de infectados.
Diante disso, para que o Brasil contenha a taxas de infecção do coronavirus e impeça o colapso do nosso sistema de saúde, as melhores medidas que podemos tomar são a quarentena e o isolamento social. Dessa forma, tanto as infecções documentadas quanto as NÃO DOCUMENTADAS serão contidas.
Então, já sabe, né? FIQUE EM CASA!
Glossário:
RNAviral: é o material genético (ácido ribonucleico) encontrado em alguns vírus.
Referências:
R. Li et al. Substantial undocumented infection facilitates the rapid dissemination of novel coronavirus (SARS-CoV2). Science. 2020. DOI: 10.1126/science.abb3221. Download do artigo em : https://science.sciencemag.org/content/early/2020/03/24/science.abb3221/tab-pdf . Acesso em: 29/03/2020
Ministério da Saúde. Link: https://coronavirus.saude.gov.br/ Acesso em: 30/03/2020
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