por Talys Jardim, Biólogo, Doutorando em Ciências Veterinárias, Universidade Federal do Rural do Rio de Janeiro
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Assim como nós humanos, as outras espécies do planeta se movimentam constantemente ao redor do globo. As populações destas espécies possuem movimentos naturais, que ocorrem dentro das áreas que historicamente sempre ocuparam. No Brasil isso não é diferente! Algumas espécies migram entre microregiões brasileiras e até biomas, seja no período do acasalamento, em busca de alimento ou forçadas por distúrbios em seus ambientes naturais. Porém, por conta do avanço global, do intercâmbio de produtos e dos “incidentes naturais” causados pelo homem, algumas espécies de outras regiões do mundo vieram parar no Brasil e aqui encontraram um ambiente fértil para seu desenvolvimento.
Estas espécies de diferentes bioregiões do globo ao chegarem por movimentos não naturais ao Brasil são consideradas espécies invasoras, e podem trazer com elas problemas importantes. Pense em um exemplo bem comum nos centros urbanos: O Pombo-doméstico (Columba livia) (Figura 1). Ele foi trazido ao Brasil durante o período Imperial para que as ruas do Rio de Janeiro se tornassem mais parecidas com as ruas europeias. Após chegar, se dispersou por quase todas as cidades do país, e como toda espécie invasora, trouxe problemas. Além de provocar toda aquela sujeira nos forros das casas, trouxeram junto consigo diversas doenças. A exemplo, uma espécie de parasito muito patogênica, o Haemoproteus columbae, parente próximo dos parasitos causadores da malária humana e da malávria aviária, já discutidos aqui no BLOG (https://creflexiva.wixsite.com/capivarareflexiva/inicio/voc%C3%AA-sabia-que-mal%C3%A1ria-tamb%C3%A9m-atinge-as-aves). O H. columbae possui como vetor, uma mosca, a Pseudolynchia canariensis. Juntos, estes dois parasitos, o H. colombae e a P. canariensis causam uma doença grave, a Haemoproteose, que pode ser transmitida para aves domésticas e silvestres brasileiras, as quais, em muitos casos, morrem por não apresentarem auto-defesa imunológica a este parasito.
Além dos parasitos e doenças que pegam carona nas espécies invasoras, estas podem trazer ainda mais transtornos! Ao serem introduzidas em novos locais, tais espécies entram abruptamente em uma delicada teia podendo causar distúrbios no equilíbrio do ambiente. Por não possuírem predadores naturais nestes novos locais, a tendência é que sua população aumente e estas grandes populações quando estabelecidas podem entrar em competição com as espécies nativas. Esta competição pode se dar por alimento, acesso à territórios e até mesmo por locais para construção de ninhos. Exemplos bem conhecidos destes problemas, infelizmente não faltam! O Javali (Sus scrofa) (Figura 2), o Caramujo-gigante-africano (Achatina fulica) (Figura 3) e a Lebre-Europeia (Lepus europaeus) são alguns dos animais que foram trazidos ao Brasil para servir de alimento, mas que fugiram de seus criatórios e se reproduziram em grande quantidade na natureza, competindo intensamente com espécies nativas, gerando grandes perdas econômicas. Alguns chegaram ao status de praga!
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Se engana quem pensa que as espécies invasoras param por aí! Além dos animais anteriormente citados, o mesmo serve para várias espécies de plantas! Nós humanos, ao colonizarmos novas áreas, levamos alguns alimentos conhecidos e quando visitamos outros lugares e conhecemos alguma fruta saborosa queremos plantar um “pé” em nossa casa. Até aí tudo bem... O problema aparece quando estas plantas “furam a fila” do equilíbrio natural e se reproduzem vertiginosamente. Este é o caso das Jaqueiras (Artocarpus heterophyllus), importadas da Índia e com grandes frutos suculentos e cheios de sementes, elas são para a fauna verdadeiros banquetes. Essa atração da fauna para as Jaqueiras faz com que os animais mostrem menos interesse pelas plantas nativas. Logo, eles preferem comer a jaca e acabam dispersando suas sementes pela mata, no lugar das plantas que tradicionalmente sempre comeram. Tudo isso interrompe o processo de dispersão das plantas nativas que tendem a entrar em declínio e se tornam mais escassas.
Então, depois de saber de tudo isso, você vai tomar mais cuidado com as espécies invasoras? Vale a reflexão!
Mais alguns exemplos de espécies invasoras no Brasil que talvez você não sabia: Pinheiro (Pinus sp.) Rato-doméstico (Rattus norvegicus); Pardal (Passer domesticus); Eucalipto (Eucalyptus sp.); Mangueira (Manginifera indica); Tigre-dágua (Trachemys dorbigni); Bananeira (Musa sp.); Garça Vaqueira (Bulbus indicus); Búfalo (Bubalus sp.); Bico-de-lacre (Strilda strilda); Capim brachiaria (Brachiaria decumbens)
Leia mais sobre o assunto:
IUCN (https://www.iucn.org)
GLOBAL INVASIVE SPECIES DATABASE (http://issg.org/database)
INVASIVE SPECIES COMPEDIUM (https://www.cabi.org)
ICMBio (http://www.icmbio.gov.br)
Tumblr (https://www.tumblr.com)
Literatura recomendada: Espécies exóticas invasoras: situação brasileira. 2006. Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis / Ministério do Meio Ambiente, Secretaria de Biodiversidade e Florestas.
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