por Priscila Fregulia
Mestre e Doutoranda em Ciências Biológicas - Comportamento e Biologia Animal, Universidade Federal de Juiz de Fora
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A polêmica em torno do impacto dos canudos plásticos sobre a fauna marinha começou em 2015, com a circulação de um vídeo feito por pesquisadores norte americanos da Universidade do Texas (Texas A&M University), onde uma tartaruga tem um canudo plástico retirado de sua narina (https://www.youtube.com/watch?v=4wH878t78bw).
Logo em seguida, várias grandes empresas como McDonald’s e Starbucks demonstraram apoio à proibição de canudos plásticos e, assim, a ideia se espalhou pelo mundo como sinônimo de responsabilidade ambiental. No Brasil, o Rio de Janeiro foi a primeira capital a aderir à ideia, que rapidamente foi adotada por outras cidades de todo o país, e foram sancionadas leis que proibiram o fornecimento de canudos plásticos em estabelecimentos comerciais, sendo estes passíveis de multas.
De acordo com um estudo publicado na revista científica Science Advances, até 2015 foram produzidos 8,3 bilhões de toneladas de plástico, dos quais apenas 9% foram reciclados, 12% foram incinerados e 79% foram acumulados em aterros sanitários ou no ambiente. Ainda, segundo relatório publicado em 2019 pela organização World Wide Fund for Nature (WWF), quase metade do plástico produzido vira lixo em menos de três anos.
O plástico de uso único, mais frequentemente chamado de plástico descartável, inclui itens feitos para serem usados apenas uma vez. Alguns exemplos desse tipo de plástico são as sacolas plásticas, embalagens de alimentos, garrafas, vasilhames, copos, talheres e canudos.
A redução de plásticos de uso único é um dos maiores desafios da atualidade e, dentre estes, o canudo é um dos mais fáceis de ser substituído. O canudo representa 4% de todo o lixo plástico do mundo. É utilizado por poucos minutos e pode levar até cem anos para se decompor no ambiente. Durante seu processo de degradação, o canudo é uma das fontes de formação de microplástico, de modo que este material se degrada até formar partículas invisíveis a olho nu. Assim, nos últimos anos, os microplásticos vêm sendo encontrados nos alimentos, no sal, nos organismos e até na água potável do mundo inteiro.
No entanto, os canudos não são os grandes vilões dos mares. Segundo o professor da Universidade de São Paulo, Pedro Luiz Côrtes, outros plásticos – como por exemplo as sacolas – possuem um impacto ambiental superior ao dos canudos e, assim, a proibição dos canudos é mais simbólica do que efetiva. Isso porque, de acordo com o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Guilherme Tavares Nunes, o canudo plástico é fácil de ser retirado de circulação e é um objeto gerador de discussão, pois leva as pessoas a questionarem sobre o impacto do plástico, principalmente no que diz respeito ao consumo exagerado, plásticos de uso único e destinação incorreta.
Como medida, o canudo plástico deve ter seu uso proibido ou deve ser substituído por canudos de outra composição, como os reutilizáveis compostos por metal ou vidro, os biodegradáveis compostos por bambu, e os comestíveis feitos de abobrinha e macarrão, e não deve ser substituído por outros plásticos, como o copo descartável.
Assim, ao retirar os canudos do nosso dia-a-dia, devemos também nos questionar sobre outros hábitos de utilização de plásticos, como por exemplo, evitar embalagens desnecessárias e preferir embalagens reutilizáveis; reaproveitar sacolas plásticas; e descartar separadamente os lixos recicláveis; a fim de que a proibição dos canudos seja apenas o primeiro passo em busca de uma sociedade com consciência ambiental.
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