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Pare! Perigo! O veneno está em todo lugar!

Foto do escritor: Capivara ReflexivaCapivara Reflexiva

Por Jéssica Andrade Vilas Boas

Mestre em Meio Ambiente e Recursos Hídricos (UNIFEI), Doutoranda em Ecologia (UFJF)


Agrotóxicos são produtos químicos, popularmente conhecidos como defensivos agrícolas, pesticidas, inseticidas, praguicidas, remédios de planta ou veneno. São utilizados para controlar ou destruir qualquer praga, incluindo animais transmissores de doenças humanas e animais, que possam ser prejudiciais na produção de produtos agrícolas e seus derivados.

A utilização desses produtos começou na década de 1950 nos EUA, na chamada “Revolução Verde”, que tinha por objetivo aumentar e modernizar o uso de práticas agrícolas. No Brasil, essa prática só chegou em 1960 com o surgimento do Programa Nacional de Defensivos Agrícolas (PNDA) e desde então, a cada ano o país avança na utilização desses produtos. Na última década, o Brasil aumentou cerca de 190% o mercado de agrotóxicos, o que colocou o país em primeiro lugar no ranking mundial de consumo desde 2008.

Um estudo impactante revelou que em 2014, 75% das águas brasileiras estavam contaminadas com agrotóxicos! Mas não para por aí. Em 2015 esse número subiu para 84%, em 2016, para 88%, chegando a 92% em 2017! Agora em 2019, 169 novos agrotóxicos foram aprovados e a grande preocupação do momento diz respeito à mistura dos inúmeros agrotóxicos que estão no ambiente, visto que a combinação de substâncias pode gerar outras e ocasionar efeitos ainda desconhecidos a curto e longo prazo.

Os agrotóxicos chegam ao ambiente de diversas formas e contaminam o solo e os corpos d’água, podendo causar problemas a todo ser vivo, inclusive ao homem! A presença de agrotóxicos nos ambientes aquáticos e terrestres pode levar a alterações em organismos de todos os tamanhos, desde os muito pequenos até os muito grandes. Por exemplo, os protozoários ciliados, micróbios que possuem papel muito importante no equilíbrio dos ecossistemas, podem ter seu crescimento e reprodução prejudicados, o que desequilibra todas as cadeias alimentares do ambiente contaminado. Ainda, em algumas cidades brasileiras, a presença do perigoso agrotóxico DDT (dicloro-difenil-tricloroetano, substância fabricada em laboratório e que possui efeitos imediatos no controle de pragas, mas que a longo prazo pode causar efeitos prejudiciais graves à saúde humana), mesmo que há muito proibido, foi detectado em tilápias, peixes comumente destinados ao consumo humano, ou seja, não somente o contato direto é perigoso, mas também o contato com outros organismos infectados, uma vez que esses compostos são acumulativos. Modificações no voo e mortalidade de diversas espécies de abelhas também já foram observadas. Reflexos graves dos agrotóxicos, pois esses insetos são importantíssimos para o ambiente, uma vez que atuam como polinizadores (ajudam na reprodução das plantas). Pesquisadores também já detectaram agrotóxicos acima do limite permitido em mais de 40% das laranjas coletadas no Estado de São Paulo, e em culturas de maçã, morango e tomate no Sul do país. Arroz e feijão contaminados, inclusive por alguns tipos de agrotóxicos não permitidos para tais culturas, também já foram observadas em diversas partes do país. Amostras de leite e água de abastecimento público, também! Ou seja, cuidado! O veneno está por todo lado!

Para o ser humano, evidências científicas mostram inúmeros problemas de saúde que estão associados aos agrotóxicos, desde “simples” dores de cabeça, doenças respiratórias, náuseas, dores de estômago, na lombar, gastrite, cólicas abdominais, e até mesmo, diagnósticos de depressão, ansiedade e irritabilidade.

Danos ao DNA (nosso material genético), bem como alterações celulares, podem estar associadas ao contato com agrotóxicos, o que pode levar ao desenvolvimento de vários tipos de câncer, tais como, câncer de mama, câncer cerebral, linfoma não-Hodgkin (um tipo de câncer no sangue), melanoma cutâneo (câncer de pele), câncer no sistemas digestivo, genital, urinário e respiratório. Alguns desses casos sendo tão graves, que podem levar à morte!

A realidade é que estamos sendo envenenados aos poucos (Figura). O uso abusivo dessas substâncias provoca riscos a nossa sobrevivência! Por mais que sejamos dependentes dos avanços científicos para nosso sustento, é preciso refletir e adotar medidas que possam fazer da nossa vida mais saudável e cada vez menos dependente de produtos que, num primeiro momento parecem inofensivos, mas que, podem comprometer a qualidade de vida e até mesmo a existência de gerações futuras.

O conhecimento é o nosso maior aliado! Reflita, se informe e repense seus hábitos e atitudes!


Figura. Impacto do uso de agrotóxicos na saúde humana


Gostou? Quer conhecer mais sobre este assunto? Veja as sugestões de leitura e se quiser, entre em contato com a gente!


Literatura básica



Literatura complementar:

Carson, R. (1962). Primavera Silenciosa. Ed. Guaia, 327p.

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