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Uai, por que a água do lago ficou verde?

por Nathália Resende

Mestranda em Ecologia, Universidade Federal de Juiz de Fora


Provavelmente você já ouviu falar, viu fotos, leu reportagens ou até mesmo presenciou que a água de lagos e reservatórios pode ficar verde, parecendo uma sopa de ervilha. Em casos extremos essa água também pode ficar meio gosmenta e com um odor estranho...eca!!! Mas você já parou para pensar por que isso acontece?

Esse processo se dá por meio da proliferação de microalgas e principalmente de cianobactérias (organismos microscópicos). Em ambientes terrestres as árvores são responsáveis por converter energia luminosa do sol e gás carbônico atmosférico em oxigênio por meio da fotossíntese. Da mesma forma, em ambientes aquáticos essas microalgas e cianobactérias, pertencentes a um grande grupo chamado Fitoplâncton, são as responsáveis por realizar a fotossíntese e disponibilizar o oxigênio na coluna d’água. Além disso, o fitoplâncton serve de alimento para o zooplâncton, pequenos animais, como moluscos, crustáceos e peixes, constituindo a base alimentar dos ambientes aquáticos.

De modo geral, o fitoplâncton é caracterizado como o conjunto dos organismos aquáticos microscópicos, fotossintetizantes (autotróficos) e que vivem à deriva na coluna de água (Reynolds, 2006). Esse grupo utiliza a luz do sol e nutrientes, como nitrogênio (N) e fósforo (P), para crescer. Em condições normais, os corpos d’água possuem concentrações de N e P em equilíbrio dinâmico com o sistema, ou seja, os nutrientes ali disponíveis são suficientes para manter o funcionamento e a sobrevivência dos organismos presentes, sem causar nenhum prejuízo. No entanto, quando ocorre um incremento rápido desses nutrientes nos corpos d’água, as microalgas e cianobactérias encontram alimento de sobra, crescendo mais do que o ambiente suporta. Esse crescimento excessivo de algas é conhecido como “floração” ou “bloom” e é desencadeado pelo processo de eutrofização.

A eutrofização pode ser definida como a ampla disponibilidade de nitrogênio (N) e fósforo (P) na água de lagos, represas ou lagoas, criando um ambiente totalmente favorável à grande e rápida multiplicação da comunidade fitoplanctônica. Naturalmente esse processo ocorre de maneira lenta, em largos intervalos de tempo, e é decorrente dos processos químicos, físicos e biológicos do próprio sistema. Entretanto, a poluição das águas com esgoto, efluentes industriais e fertilizantes desencadeiam um rápido aumento da concentração de N e P tornando o processo de eutrofização um grande problema urbano.

As altas concentrações de nutrientes propiciam o aumento desenfreado do fitoplâncton. No rápido crescimento, esses organismos formam uma “nata verde” próxima à superfície, que confere o aspecto de “sopa de ervilha” à água além de gerar um sombreamento no resto da coluna d’água. E na acirrada competição pelos recursos disponíveis, principalmente luz, as cianobactérias se mostram imbatíveis e saem ganhando das outras microalgas.


Figura 1. Processo de Eutrofização. Fonte: Água, sua linda!

Algumas cianobactérias possuem uma série de estruturas adaptativas que favorecem sua sobrevivência. Aqui destacaremos duas: os aerótopos (vacúolos de gás que auxiliam na flutuação) e o envoltório de mucilagem (substância polissacarídea que envolve as células, colônias ou filamentos com função de proteção, flutuação e/ou locomoção). Com o auxílio do aerótopo, as cianobactérias conseguem se posicionar acima das outras algas, utilizando a luz para crescer e sombreando suas concorrentes. A mucilagem impede essas cianobactérias de serem predadas, além de auxiliar na flutuação. Logo, as cianobactérias crescem mais e as outras algas morrem. Ao morrerem, essas algas são rapidamente decompostas pelas bactérias aeróbias presentes na água, aumentando intensamente o consumo de oxigênio. Assim, as concentrações de oxigênio dissolvido caem drasticamente, podendo chegar a zero e os outros seres, como microcrustáceos, moluscos e peixes, morrem. O baixo teor de oxigênio, somado a morte de diversos organismos resulta no odor desagradável que pode ser percebido nos lagos e reservatórios que se encontram eutrofizados.


Figura 2. Uai, por que a água do lago ficou verde?

Além de ser altamente prejudicial ao ambiente, a superpopulação de cianobactérias também pode ser prejudicial para os seres humanos, uma vez que esses organismos podem produzir neurotoxinas, hepatotoxinas e dermotoxinas. Quando ingeridas, as neurotoxinas podem causar tremores na pele, respiração ofegante, desequilíbrio e convulsões. Já as hepatotoxinas afetam o fígado e podem causar vômito, diarreia hemorragias que podem levar à morte. Por fim, as dermotoxinas causam irritação ao entrar em contato com a pele.

Apesar de serem consideradas “as vilãs” do fitoplâncton, as cianobactérias tem alta importância ecológica em condições ambientais normais, já que junto com outras microalgas, são responsáveis por produzir a maior parte do oxigênio atmosférico.

Bem, agora já sabemos porque a água fica verde. Mas o que pode ser feito para resolver esse problema?

Reverter o processo de eutrofização é extremamente complicado e quase sempre muito caro. Tanto quando o processo ocorre de forma natural quanto quando ocorre por interferência humana, o passo inicial é descobrir qual é a fonte que está causando aumento da concentração de nutrientes. A partir disso, soluções para diminuir ou cessar essa entrada podem ser propostas. No entanto, vale lembrar que isso não é uma tarefa simples uma vez que envolvem contextos sociais, ambientais, econômicos e políticos distintos.

Gostou? Quer conhecer mais sobre este assunto? Veja as sugestões de leitura e se quiser, entre em contato com a gente!


Sugestão de leitura:

ECYCLE, Equipe. “O que é eutrofização?”; Ecycle. Disponível em: https://www.ecycle.com.br/1490-eutrofizacao

SANTOS, Vanessa Sardinha dos. "Plâncton"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/biologia/plancton.htm.

SANTOS, Vanessa Sardinha dos. "O que é fitoplâncton?"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/biologia/o-que-e-fitoplancton.htm.

SANTOS, Vanessa Sardinha Dos. "O que é zooplâncton? "; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/biologia/o-que-zooplancton.htm.

SANTOS, Vanessa Sardinha Dos. "O que é cianobactéria?"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/biologia/o-que-e-cianobacteria.htm.


Referências:

REYNOLDS, C. S. (2006). The ecology of phytoplankton. Cambridge University Press.

 
 
 

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