por Thiago da Silva Novato
MSc. em Biodiversidade e Conservação da Natureza - Universidade Federal de Juiz de Fora
A teoria meritocrática tem sido defendida ao longo do tempo pela grande maioria dos governantes de extrema direita no país, sob uma perspectiva de que todas as pessoas apresentam as mesmas capacidades intelectuais de atribuírem um suposto sucesso profissional, baseado em cargos comerciais e empresariais que vinculam a ideia de sucesso ao acúmulo de capital. Nos âmbitos educacionais, a aplicabilidade dessa teoria remonta no que diz respeito que todo estudante, a partir de esforço e dedicação, teria as mesmas proporções de aprendizado e de aquisição do conhecimento. Apesar do esforço individual ser importante para a adaptação em um mundo cada vez mais competitivo e infelizmente pautado na educação empresarial, é importante ressaltar que a meritocracia se faz possível em uma sociedade que ofereça as mesmas condições socioeconômicas, sociopolíticas e socioambientais para toda a população. Claramente, isso não se aplica no Brasil, visto a evidente desigualdade social e econômica encontrada em nossa população.
Infelizmente vivemos em um país em que os investimentos são extremamente capitalizados. Pessoas de classe média alta e com padrões de vida elevada apresentam um passo muito a frente de pessoas que precisam de condições básicas de vida, como acesso à internet, alimentação e saúde. Parece absurdo, mas ainda vivemos em um país extremamente polarizado, e temos um dos maiores índices de evasão escolar de estudantes que precisam conciliar trabalho e estudos para complementar a renda média mensal. Desse modo, sobretudo em escolas públicas, a escola também precisa levantar artifícios que levem em consideração as particularidades e realidades locais dos alunos para que assegurem sua permanência nas instituições de ensino. Enquanto isso, em escolas particulares, com mensalidades extremamente caras, o foco se dá principalmente na transmissão dos conteúdos, não precisando focar nessas particularidades.
É extremamente importante reforçar que a merenda escolar no ensino básico, políticas de inclusão social, tecnológica, cultural, técnica e de acesso a línguas estrangeiras são importantes políticas públicas educacionais que tentam sancionar justiça social. O sistema de cotas também é uma importante medida inclusiva, pois além de historicamente termos uma dívida social com pessoas vítimas da escravidão e colonização portuguesa, oportuniza cada vez mais a diversidade de acesso das pessoas nas universidades públicas e federais, que podem ampliar as oportunidades de jovens que querem ressignificar as condições de vida familiar. Além disso, o Pronatec, PROUNI e FIES tem sido importantes iniciativas que auxiliam na democratização do ensino.
Ainda assim, muitos desafios permeiam de fato um ensino de qualidade para todos no Brasil. Sob uma análise temporal e de classes sociais, o que se observa é uma triste tendência do ensino precário para a classe proletária, que acaba sendo direcionada para formação de mão de obra barata que sustenta inclusive os padrões de vida de grandes empresários que, por serem ricos, podem fornecer melhores oportunidades de ensino para seus filhos, com um conhecimento mais robusto, englobando todos os tipos de saberes artísticos, científicos e filosóficos.
Apesar dos avanços promovidos no início do século XXI, mudanças no modo de ensino educacional, que permitam maiores ofertas democráticas, igualitárias, emancipatórias e unilaterais no ensino são necessárias. Os retrocessos políticos desde 2016 são preocupantes, com a promulgação da Escola sem Partido e a abolição dos sistemas de cotas. O corte orçamentário nas Instituições Públicas de Ensino Básico e Superior também são indícios de que não é interesse do governo brasileiro atual atribuir a educação de qualidade no nosso país. Com as eleições chegando, é um papel de cidadania votar em candidatos que prezem pela diminuição das desigualdades educacionais em nosso país. Já defendeu a educação hoje?
Comentarios