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Você sabia que a ciência possui controle de qualidade?

Foto do escritor: Capivara ReflexivaCapivara Reflexiva

Atualizado: 11 de jun. de 2020

Por Franciane Cedrola Vale

Doutora em Ciências Biológicas – Comportamento e Biologia Animal

Universidade Federal de Juiz de Fora


A Capivara continua refletindo sobre a ciência no Brasil!

Hoje nós iremos falar sobre o controle de qualidade da produção científica no país e no mundo. Você sabia que as publicações dos cientistas possuem escalas de avaliação? Isso mesmo!

Eu não sei se você tem visto, mas recentemente, este assunto tem ficado em alta na mídia, por conta das pesquisas sobre o novo corona-vírus. A todo momento, nós vemos na televisão e em outros veículos de informação, o resultado de pesquisas cientificas e a referência a muitos estudos e trabalhos que têm sido publicados em revistas científicas.

Bem, quando um pesquisador conclui um determinado estudo, deve enviá-lo a uma revista científica para que seja compartilhado com outros cientistas. Atualmente, existem milhares de revistas deste tipo! Algumas são multidisciplinares, ou seja, publicam artigos em todas as áreas do conhecimento e outras são específicas de determinadas áreas. Com tantas opções, os pesquisadores ficavam em dúvida e perdidos para escolher para qual revista deveriam enviar o seu trabalho. Então, desde o final da década de 1970 existe um sistema de classificação das revistas pela qualidade! Este sistema é conhecido como Fator de Impacto (FI).

O FI leva em consideração o número de artigos publicados em determinada revista científica por um período de dois anos e o número de citações que os artigos publicados nesta revista, receberam durante este mesmo período. Por exemplo, se uma revista científica teve 400 artigos publicados ao longo de dois anos e 200 citações, o FI desta revista será de 0.5 (200/400). Ah! As citações de um artigo nada mais são do que o número de vezes que este artigo é mencionado em outros artigos. Então, o FI é uma medida crescente. Quando maior o FI, melhor a revista.

Esta ideia, de medir a qualidade das revistas por meio do número de citações, foi baseada na proposta do cientista Eugene Eli Garfield, que demonstrou, ainda no final da década de 1970, que a propagação de um conhecimento científico, contido em uma publicação científica, estava muito relacionado com o número de citações que este conhecimento recebia ao longo do tempo. Em outras palavras, um estudo científico de alto impacto, era aquele que era citado, mencionado muitas vezes. Assim, vários pesquisadores chegaram ao cálculo do FI.

Parece simples entender o FI e decidir para qual revista um pesquisador deve enviar o seu artigo, não é mesmo? Pois como eu disse, maiores FI indicam melhores revistas. No entanto, esta não é uma tarefa fácil e os FI variam muito entre as diferentes áreas do conhecimento, pois alguns assuntos são mais pesquisados que outros e por isso, consequentemente, mais citados que outros. É o exemplo do que tem ocorrido recentemente com as revistas científicas na área de saúde. Com o aparecimento do novo corona-vírus e com a busca incansável por tratamentos eficazes e vacinas, as revistas que publicam sobre este assunto tem recebido cada vez mais atenção. Então, é fácil perceber o quanto a ciência é dinâmica, pois uma revista pode ter o seu FI aumentado em um determinado período e diminuído em outros, visto que ele é recalculado de dois em dois anos. Assim, os pesquisadores, ao escolher as revistas, devem estar atentos a todos esses fatores.

Mas engana-se quem pense que para que um pesquisador tenha o seu artigo publicado em uma revista, basta somente que ele escolha para onde enviá-lo. Após escolher, o artigo deverá passar por uma análise por parte da revista, a qual irá informa-lo se o seu artigo poderá ou não ser publicado. Este processo envolve várias etapas. A primeira delas é a recepção do artigo por um pesquisador que coordena a revista. Esse pesquisador é chamado de Editor. O Editor irá ler o trabalho e se ele achar que o conteúdo da pesquisa é interessante e tem a ver com o tema da revista, ele poderá aceitar este trabalho, diretamente. Neste caso, o trabalho será enviado para a publicação. Ou então, ele pode enviar a outros especialistas da área, geralmente dois ou três, que irão ler o trabalho e enviar as suas impressões ao Editor. Esses especialistas são chamados de Revisores ou Pareceristas. O Editor, então, munido com as impressões dos Revisores irá decidir sobre a publicação ou não do trabalho. É importante lembrar, também, que os Revisores e o Editor poderão pedir algumas modificações e melhorias no trabalho antes que ele seja publicado e o processo pode ser bem longo! Então, é importante valorizar um cientista, pois se ele chegou a publicar um trabalho em uma importante revista científica, quer dizer que ele passou por um longo e cansativo caminho, antes de “passar pela linha de chegada”!

Mas você deve ter percebido, que o FI é uma medida mundial. A ciência no mundo todo é medida com base no FI. Mas e em relação ao Brasil? A métrica é a mesma?

Bem, de acordo com o último texto sobre produção científica, publicado no BLOG (https://creflexiva.wixsite.com/capivarareflexiva/post/voc%C3%AA-sabe-como-funciona-a-ci%C3%AAncia-no-brasil), você viu que grande parte da ciência brasileira fica sob responsabilidade dos programas de pós-graduação, pois eles reúnem os estudantes de Mestrado e Doutorado, pesquisadores em estágio de Pós-Doutorado, bem como professores e outros profissionais, que se destinam a produzir ciência no país. Com o aparecimento dos primeiros programas de pós-graduação, o governo criou formas de acompanhar e oferecer suporte a estes programas, de modo “a garantir a formação de pessoal especializado em quantidade e qualidade suficientes para atender às necessidades dos empreendimentos públicos e privados, em prol do desenvolvimento do país”. Foi assim que surgiu, ainda no início da década de 1950 (Decreto 29.741 (11/07/1951)), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), fundação vinculada ao MEC e que desempenha papel fundamental na expansão e consolidação da pós-graduação em todo o país. Atualmente, a CAPES encontra-se responsável, dentre outras funções, em avaliar os mais de 4500 programas de pós-graduação existentes no país, tanto em relação à produção científica, como em relação à qualidade dos profissionais formados.

Assim, em 1977, surgiu o primeiro sistema de avaliação dos programas de pós-graduação, o qual vem sendo aprimorado desde então. Nas primeiras avaliações, os programas de pós-graduação eram classificados em cinco níveis (A= muito bom, B= bom, C= regular, D= fraco, e E= insuficiente), os quais levavam em consideração somente a quantidade de artigos publicados, sem, no entanto, avaliar a qualidade dessas publicações. De modo que no mundo todo, a produção era avaliada segundo o critério do FI, a CAPES foi aprimorando os moldes da sua classificação, até chegar ao modelo que temos hoje, que leva em consideração tanto os aspectos quantitativos (quantidade), quanto os qualitativos (qualidade).

Atualmente, a CAPES utiliza o chamado QUALIS, o qual avalia as diferentes formas de produção científica existentes no país. Ele é dividido em três grandes grupos: o QUALIS periódicos, que classifica as revistas científicas; o QUALIS livros, que classifica livros produzidos pelos programas de pós-graduação; e o QUALIS Artístico, Cultural e de classificação de Eventos, que classifica os diferentes tipos de produção científica na área das Artes.

O QUALIS periódicos é o mais comum e hoje conta com nove estratos (A1, A2, A3, A4, B1, B2, B3, B4 e C), os quais levam em consideração, dentre outros fatores, dados bibliométricos, semelhantes aos utilizados para o cálculo do FI, como por exemplo, o número de publicações e de citações que uma determinada revista teve nos últimos anos. Assim, os programas de pós-graduação são ranqueados, no que diz respeito à produção científica, utilizando o número de artigos que eles possuem em cada um dos estratos, sendo o estrado A “mais valioso” que o B e este “mais valioso” que o C (Figura 1), ou seja, as revistas melhores estão classificadas no QUALIS A e, portanto, reúnem as melhores publicações. Programas de pós-graduação que possuem maior número de publicações nos estratos melhores, são mais bem avaliados.


Figura 1. Qualis CAPES


Ainda, conforme dito anteriormente, os programas também são avaliados em relação à qualidade dos profissionais formados. Assim, a CAPES também desempenha avaliação dos alunos e professores, que leva em consideração diversos outros aspectos, além das publicações, como por exemplo, a participação em eventos e a participação em grupos de pesquisa no exterior.

Gostou? Na próxima semana, voltaremos com mais um assunto fresquinho sobre a produção científica no Brasil! Falaremos um pouco sobre como a ciência é financiada no Brasil e no mundo e como os cientistas tem feito para divulgar o conteúdo que produzem para a população! Você não pode perder.

Então, fique de olho!

Para saber mais sobre a CAPES, acesse o portal da fundação: www.capes.gov.br

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